Associação de Bares e Restaurantes Projeta Números Assustadores de Demissão no Setor

Previsão é de que cerca de 600 mil trabalhadores desse setor já tenham sido demitidos devido a crise causada pelo novo Coronavírus

Atualizado em abril 6, 2020 | Autor: Michelle
Associação de Bares e Restaurantes Projeta Números Assustadores de Demissão no Setor

Mais de 600 mil pessoas já teriam sido demitidas de bares e restaurantes, com a escalada do novo coronavírus no Brasil, de acordo com projeção da ANR (Associação Nacional de Restaurantes), baseada em enquete com seus associados. A entidade, que agrega 9.000 associados, entre grandes redes, franquias e restaurantes independentes, recebeu respostas de cerca de 70% de seus integrantes de 27 de março a 1º de abril. Identificou que 61,8% dessas empresas já demitiram.

“Estimo que esses 61% correspondem a cerca de 15% dos 20% dos funcionários da força de trabalho dos associados. Com essa estratificação, assumo que as demissões do setor no Brasil podem girar em torno de 600 mil a até 800 mil”, diz Cristiano Melles, presidente da ANR, que reúne redes como McDonald’s, China in Box, Viena e Outback.

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Setor emprega cerca de seis milhões de trabalhadores no país

Na última quarta (1º), a rede Madero demitiu 600 funcionários. Já a IMC anunciou corte de 30% da sua força de trabalho. A Associação Nacional de Restaurantes diz que mais da metade dos associados que responderam (53,2%) afirmou que perdeu de 50% a 90% do faturamento na comparação entre março deste ano e o mesmo mês de 2018. Considerando trabalhadores formais e informais, o setor emprega cerca de seis milhões pelo país.

Apenas 3% disseram ter registrado aumento na receita, mas apenas nas operações de delivery; 36% afirmaram que adaptaram suas operações rapidamente para ofertar o serviço de entrega. Sobre a manutenção de negócios no período pós-pandemia, 16% disseram que fecharão as portas. Por outro lado, 57% dos empresários afirmaram que seguirão com a empresa, enquanto 27,5% declararam que vão manter algumas lojas abertas, mas fecharão outras.

Flexibilização nas leis trabalhistas

Nesta quarta (1º), o Governo Federal editou uma Medida Provisória (MP) que autoriza o corte de salários e de jornada de trabalhadores, durante a crise provocada pelo vírus. As reduções poderão chegar a 70% e têm prazo máximo de 90 dias. A MP ainda libera a suspensão de contratos de trabalho por até dois meses, estabelecendo o pagamento do seguro-desemprego nesses casos.

A medida era um pleito de diversos segmentos, incluindo o de restaurantes. Para o presidente da ANR, ela dá alento ao setor e previsibilidade em relação aos funcionários. “Agora vamos trabalhar para aumentar o prazo [da suspensão de contratos] de 60 dias para 120 dias. Se a medida tivesse saído dez dias antes, sem dúvida diminuiria o estrago, mas precisou haver consulta ao STF e alguns pontos não tiveram a rapidez necessária”, afirma Melles.

Para especialistas, pacote do emprego ajuda, mas custo será alto

A redução de salários e jornada por causa da crise do coronavírus deve ajudar a preservar empregos, mas não resolve tudo, segundo especialistas. O governo terá de investir em medidas adicionais, como adiar o pagamento de impostos e aumentar a oferta de crédito a empresas, defendem alguns economistas. Salários mais altos podem ter corte de até 57%.

A medida provisória (MP) 936, que autoriza empregadores a reduzirem salários e jornada de trabalho durante a pandemia do coronavírus, deve atingir, segundo especialistas, seu principal objetivo: preservar empregos em meio à pandemia. Apesar disso, para que as empresas respirem mais aliviadas, outras ações precisam acompanhar a medida. Para o trabalhador, não será fácil: simulações mostram que, mesmo coma compensação do governo, para quem ganha acima de R$ 10 mil, a queda pode chegar a 57,31%. Ainda assim, economistas, empresários e entidades setoriais ressaltam que, ao garantir parte da renda dos trabalhadores, a MP 936 ajudará a evitar uma paralisação ainda maior da economia.

Thiago Xavier, economista da consultoria Tendências, defende que o governo coloque em funcionamento, rapidamente, ações como crédito às empresas e adiamento do pagamento de impostos, medidas também defendidas pelo presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf.

A possibilidade de reduzir os salários em até 70% terá impacto relevante sobre a renda do trabalhador. Como a compensação será calculada de acordo com o seguro-desemprego, que é limitado a R$ 1.813,03, quem recebe R$ 10 mil por mês, por exemplo, poderá ver esse valor ser diminuído em 57,31%, se a empresa em que trabalha negociar a redução temporária, pelo teto fixado na MP, de 70%.