Cannabis Medicinal no tratamento dos sintomas do Autismo
Uma esperança para as famílias que sofrem com sintomas mais severos do TEA
Alguns registros mostram a indicação de uso no tratamento de doenças a mais ou menos 2.700 anos a.C. O Imperador da China indicava o chá de suas folhas para tratar dores articulares, reumatismo, gota e malária. Como qualquer outra erva, a cannabis ganhou muita atenção em terapias caseiras para muitas doenças, principalmente em anos remotos quando não existiam medicamentos sintéticos como hoje. Médicos de todos os tempos continuaram seus estudos e ensaios clínicos sobre os efeitos da droga em inúmeras terapias.
Foi somente no final do século XVIII que a erva começou a ganhar má fama, devido ao uso recreativo por algumas minorias sociais. Esse estigma passou a criminalizar o uso da maconha em forma de fumo e então os países tornaram ilegal o uso e o cultivo da cannabis. Mas seus efeitos no sistema nervoso sempre deixaram a ciência interessada em investigar como as substâncias se comportam no organismo. Cientistas passaram a realizar ensaios in vitro para conhecer os efeitos no cérebro de animais e logo após em humanos. Além de conter substâncias anti-inflamatórias, foi descoberto na Cannabis Sativa cerca de 60 tipos de canabinoides, que é uma substância estimulante do sistema endocanabinoide, que são neurotransmissores responsáveis por equilibrar e regular as funções cognitivas fisiológicas ligadas a fertilidade, desenvolvimento, sensação de dor, humor, apetite e atividade do sistema imune. Esses canabinoides são extraídos do talo, folhas, sementes e do cânhamo.
Como a pesquisa chegou no espectro autista
As pesquisas com a cannabis já vinham evoluindo para pacientes com Alzheimer e Parkinson, mas somente em 2016 que pesquisadores do Departamento de Ciências Fisiológicas da Universidade de Brasília, realizaram um teste com 18 pacientes com autismo entre 6 e 17 anos, sendo 10 deles não portadores de sintomas epilépticos e 5 epilépticos. Na pesquisa foi utilizado um composto do óleo de Canabidiol para tratar os voluntários e, após 9 meses de tratamento, os resultados mostraram uma melhora em 30% dos sintomas e não demonstraram efeitos colaterais. A pesquisa foi divulgada na revista Americana de Neurociência, Frontiers in Neurology em 2019, e ganhou forte repercussão entre cientistas dos Estados Unidos, Canadá e Brasil. Os pais relataram uma melhora, principalmente na atenção, hiperatividade, irritação e crises nervosas que costumam levar a auto agressividade, além de regular o sono.
Uma esperança para as famílias
O autismo é uma condição que afeta o dia a dia dos portadores do espectro e dos pais. Os autistas possuem uma forma particular de ver o mundo, e qualquer outra pessoa estranha o comportamento deles diante de situações simples. Alguns podem não conseguir passar por certos lugares, não comem determinados alimentos, pois possuem uma sensibilidade as texturas, andar de carro por exemplo pode ser um desafio, cada um tem uma particularidade. Nos pacientes com grau mais elevado, habilidades cognitivas como andar, sentar, comer sozinho e até mesmo falar, não são possíveis. Em todo o mundo, cientistas buscam respostas para o autismo, mas nada foi suficientemente conclusivo e não existe uma forma exclusiva de tratamento. Normalmente, os pacientes usam medicamentos controlados desenvolvidos para outras doenças apenas para tratar os sintomas. Medicamentos para ansiedade, para TDAH, para dormir, entre outros. E o maior fracasso desse tipo de tratamento está no baixo resultado, nos efeitos colaterais e na dependência, o que mostrou na pesquisa brasileira que não aconteceria com o Canabidiol.
Uso medicinal no Brasil
Outro benefício que a pesquisa trouxe para o Brasil é que mesmo com a legalização para uso e cultivo da maconha com fins de pesquisa e tratamento estarem regularizados no país desde 2006, ainda era muito caro para trazer o material em forma terapêutica para o país, e foi só depois dos resultados dessa pesquisa que a Anvisa tornou mais curto o processo de importação do componente isolado e das plantas para uso terapêutico de 90 dias para 10 dias. Para fazer cultivo e uso medicinal é necessário pedir uma autorização junto ao órgão e Vigilância Sanitária. Sem o documento, plantar ou comercializar maconha e seus componentes é crime. Também já é possível comprar canabidiol no Brasil, mas ainda custa muito caro, pois os óleos puros com canabinoides CB1 e CB2 variam de R$200,00 a R$1.000,00. Somente um médico pode prescrever e solicitar o tratamento pelo SUS, mas é necessário um detalhamento de toda a condição do paciente e a necessidade de tratar com esse tipo de medicamento.