Confusão mental e depressão pós Covid

Ser diagnosticado com Covid-19 já causa um impacto psicológico muito grande no infectado e nas pessoas que convivem com ele. Quando não há sintomas graves que levem o indivíduo à internação, passados os 14 dias de quarentena, deveria ser um alívio e uma grande libertação, mas infelizmente essa doença é tão assustadora quanto desconhecida. As notícias mudam todos os dias, os sintomas possuem variações e estão deixando sequelas neurológicas nos recuperados. Agora, os cientistas investigam a relação de transtornos mentais que estão sendo relatados por muitos pacientes ao redor do mundo, mesmo nos casos onde os infectados não desenvolveram sintomas graves e não precisaram de internação.

Os estudos nos casos assintomáticos tem prejudicado os cientistas que não conseguem informações suficientes de pacientes menos graves, já que eles não passam por análises específicas nem testagem significativa, e os relatos de perda de memória e confusão mental acabam chegando de maneira tardia, quando a pessoa já entrou na fase de produção dos anticorpos.

Um vírus gripal que chega ao nervo central

Existem pelo menos 300 estudos em andamento, investigando os efeitos do coronavírus no sistema neurológico. Os pesquisadores chineses trabalham com a hipótese de as Sars-Cov-2 não atacar diretamente o sistema respiratório e que talvez estejamos diante de um vírus que age no nervo central, já que em casos graves, a saúde dos infectados é afetada de formas diferentes. As complicações ocorrem onde a pessoa possui maior fragilidade. A falha pulmonar acompanhada de tosse pode estar relacionada com os danos no tronco cerebral, que é responsável por garantir que continuemos respirando mesmo em estado de inconsciência. Essa suspeita começou a ganhar forma depois que três homens tiveram sintomas graves de encefalite e meningite. Foram feitos testes com o líquido puncionado do cérebro e o vírus foi detectado nos três resultados.

Alguns pesquisadores já seguem outro raciocínio, destacando o fato de que as falhas na oxigenação da corrente sanguínea possam afetar o cérebro. As células neurais podem morrer e isso pode estar causando os problemas de confusão mental e perda de memória. Alguns pacientes com Covid-19 apresentam uma queda na oxigenação, mas não percebem, pois não sentem falta de ar. Isso é comum em pessoas que estão se tratando em casa e acabam indo ao hospital somente quando a falta de ar os fazem passar muito mal. Por isso que algumas pessoas parecem estar evoluindo bem com a doença, mas subitamente pioram de tal maneira que não conseguem chegar ao hospital a tempo e acabam morrendo em casa. Diante disso, a OMS passou a recomendar o uso de um oxímetro caseiro para aqueles que estão se tratando em casa possam verificar sua oxigenação a cada 2 horas pelo menos. Os níveis toleráveis ficam em até 95% e, abaixo disso, já é necessário buscar atendimento, sob o risco de entrar em coma e falência de órgãos.

O que relatam as pessoas que se curaram do coronavírus

As principais queixas são:

Confusão mental – a pessoa fica desorientada sobre onde está ou o que deveria fazer. Alguns relatam que sentem como se estivessem flutuando, com incapacidade de realizar tarefas comuns, como dirigir ou realizar as atividades rotineiras de trabalho. Muitas pessoas têm deixado o emprego por não conseguir mais lembrar das principais e mais básicas funções.

Perda da memória – um detalhe comum entre todos os pacientes que relatam a perda da memória é esquecer palavras comuns quando estão falando uma simples frase, não conseguindo concluir suas falas por esquecerem o nome de alguém ou de algum objeto, além de coisas que podem estar em sua frente e não consegue lembrar o nome do tal objeto. Esses esquecimentos são de coisas tão comuns à vida dos pacientes que chamam a atenção dos médicos e cientistas.

Depressão – mais da metade dos recuperados da Covid-19 desenvolveram os sintomas da depressão. A maioria deles é de casos em que as pessoas ficaram internadas e passaram pelo tratamento intensivo. Os pesquisadores relatam que esse fato pode estar ligado tanto à manipulação dos medicamentos usados no tratamento dos pacientes internados em UTI, como ao estresse pós-traumático experimentado pelos pacientes em risco de morte.