FMI Afirma Que Economia Global Pode Ter Pior Queda Desde a Grande Depressão

Com recuo de 3% previsto, fundo prevê um tombo que não aconteceu nos últimos 90 anos. Para o Brasil queda pode chegar a 5,3%, que seria o pior desde 1901

Atualizado em abril 16, 2020 | Autor: Michelle
FMI Afirma Que Economia Global Pode Ter Pior Queda Desde a Grande Depressão

A pandemia de coronavírus vai levar a economia mundial a registrar em 2020 o pior desempenho desde a Grande Depressão de 1929, segundo relatório divulgado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), nesta terça (14). O órgão passou a estimar que o Produto Interno Bruto (PIB) global deve recuar 3%.

A previsão de antes da crise era de alta de 3,3%. Já no caso do Brasil, o FMI prevê que o PIB deste ano vai encolher 5,3%. Antes, a expectativa era de alta de 2,2%. Se a nova previsão do Fundo se confirmar, a economia brasileira também vai alcançar uma marca bastante negativa: será o pior desempenho econômico desde 1901, pelo menos.

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Por enquanto, as projeções do FMI para a economia brasileira estão mais pessimistas que as do mercado financeiro local. No relatório Focus, do Banco Central, divulgado nesta segunda (13), os analistas estimam uma queda de 1,96%.

Para conter a pandemia do coronavírus, vários países estão paralisando as atividades econômicas consideradas não essenciais e promovendo o isolamento social. A última recessão global foi observada em 2008 diante dos efeitos da crise financeira internacional.

“É muito provável que este ano a economia global experimente a sua pior recessão desde a Grande Depressão, superando a que foi observada uma década atrás durante a crise financeira”, informou o fundo no relatório World Economic Outlook.

A crise deve ser mais severa nas economias desenvolvidas, segundo o FMI. A projeção é a de que os países mais ricos tenham uma retração na atividade de 6,1%, enquanto a atividade dos países emergentes e das economias em desenvolvimento deve recuar 1%.

Nesse período de crise provocada pelo coronavírus, o Fundo ressalta que são necessárias medidas de estímulo fiscal e monetário para manter a estrutura financeira global e, dessa forma, garantir que os trabalhadores tenham acesso a bens e que as empresas possam superar a recessão.

“A magnitude e a velocidade do colapso da atividade econômica que se seguiu à pandemia de covid-19 é diferente de tudo o que ocorreu em nossas vidas. E há uma incerteza substancial sobre seu impacto na vida e nos empregos das pessoas”, afirmou a economista-chefe do Fundo Monetário Internacional (FMI), Gita Gopinath.

FMI projeta retomada em 2021

Embora o quadro para a economia seja bastante negativo neste ano, o Fundo Monetário Internacional projeta uma recuperação no próximo ano com a expectativa de que a pandemia do coronavírus seja superada. O PIB global deve avançar 5,8%.

A melhora deve ser liderada pelas economias em desenvolvimento. No ano que vem, o Fundo estima que o PIB dos emergentes vai aumentar 6,6%, enquanto as economias emergentes devem avançar 4,5%.

“A quarentena, o lockdown e o distanciamento social são medidas importantes para retardar a transmissão (do coronavírus), dando ao sistema de saúde tempo para lidar com o aumento da demanda por seus serviços e para os pesquisadores tentarem desenvolver terapias e uma vacina”, pontuou o Fundo.

“Essas medidas podem ajudar a evitar uma queda ainda mais grave e prolongada na atividade e preparar o terreno para a recuperação econômica”, acrescentou.

Para o Brasil, o avanço esperado em 2021 é de 2,9%. “Existem razões para otimismo, apesar das circunstâncias terríveis”, disse Gita Gopinath. “As rápidas e substanciais ações de política econômica adotadas em muitos países ajudarão a proteger pessoas e empresas, prevenindo um prejuízo econômico ainda mais severo e criando as condições para a recuperação”, pondera Gopinath.

OMC também prevê cenário sombrio e Brasil será fortemente atingido

Sob o impacto da pandemia do novo coronavírus, a Organização Mundial do Comércio (OMC) prevê um cenário sombrio para o setor, em todo o planeta, este ano. A expectativa é de uma queda vertiginosa que pode chegar a 12,9%, na melhor das hipóteses, e a 31,9%, na pior delas. A recuperação vai depender da duração do surto e do resultado das políticas adotadas mundialmente.

“Esta crise é antes de tudo uma crise de saúde pública que forçou governos a tomarem medidas sem precedentes para proteger as vidas de suas populações. As perdas inevitáveis no comércio e na produção mundial terão consequências dolorosas nos lares e nos negócios, além do sofrimento causado pela própria doença”, disse o diretor-geral da OMC, Roberto Azevêdo.

Para montar os seus cenários, o modelo da OMC considera um conjunto de projeções para o comportamento do Produto Interno Bruto (PIB) mundial e por regiões. Neste contexto, trabalha com uma queda da economia global de 2,5% a 8,8% do PIB este ano.

América do Sul amplamente atingida

A América do Sul e Caribe é quem mais vai sentir o efeito da crise, com uma recessão estimada entre 4,3% a 11%. E a recuperação, a partir do ano que vem, por mais que seja positiva, está longe de compensar o tombo. No melhor cenário vai a 6,5% e, no pior, 4,8%.

A América do Norte, por sua vez, deve ser a região mais afetada pela perda no volume de comércio. Se confirmada a projeção mais pessimista do último balanço feito pelo organismo, a queda será de até 40,9%. O cenário otimista prevê uma redução de 17,1%. A Ásia, por sua vez, pode registrar uma queda no volume de comércio de 13,5% a 36,2% este ano.

Os países da América do Sul e Caribe devem registrar perdas de 31,3% no pior cenário traçado pela OMC, e de 12,9% no melhor. A região já havia tido queda no volume de comércio no ano passado, o que significa que já vinha de uma situação menos favorável.

Brasil deve sentir mais o tombo

Maior economia da região, o Brasil deve ser um dos que mais vai sentir o recuo. Em 2019, o Brasil respondeu por 1,2% das exportações mundiais de mercadorias (27ª posição global). O valor já foi 7% menor do que no ano anterior. Para importações, o Brasil ficou em 28º lugar no ano passado (com 1% do total mundial) e registrou uma queda de 3% em relação a 2018.

Em todo o mundo, o comércio de mercadorias já vinha caindo sobretudo em função da guerra comercial entre Estados Unidos e China. A queda foi de 0,1 % no ano passado. O diretor-geral da OMC, Roberto Azevêdo, afirmou que o objetivo agora é controlar a pandemia e tentar mitigar o dano econômico causado às pessoas, empresas e países.

Segundo ele, os formuladores de políticas públicas precisam começar a planejar o resultado das consequências desta pandemia. “Esses números são feios, não há outra coisa a dizer. Mas uma retomada rápida e vigorosa no comércio é possível”, disse Azevêdo.

Recuperação da economia?

O relatório da OMC destaca que o comércio será um ingrediente para a recuperação da economia global, juntamente com as políticas fiscal e monetária. “Manter os mercados abertos e previsíveis, além de promover um ambiente geral de negócios mais favorável, será fundamental para estimular o investimento de que precisaremos”, afirma o documento, que reitera a necessidade do multilateralismo como resposta para a crise. “Se os países trabalharem juntos, veremos uma recuperação muito mais rápida do que se cada país agir sozinho”, garante Azevêdo.

O relatório compara a atual crise econômica desencadeada pela pandemia de Covid-19 com a crise financeira global de 2008. Embora os governos tenham voltado a intervir com políticas monetárias e fiscais para combater a desaceleração e oferecer apoio econômico temporário aos negócios e às famílias, desta vez existe um elemento de incertezas adicional: as restrições de locomoção e o distanciamento social. O fechamento de setores inteiros das economias dificulta das projeções para o futuro.

Daí a grande margem para os percentuais adotados nos cenários mais otimistas e os mais pessimistas. “Nessas circunstâncias, projeções requerem grandes suposições sobre o progresso da doença e está mais dependente de estimativas do que de informações apuradas”, admite o texto.

A pior queda no comércio será provavelmente em setores com cadeias de valor mais complexas, em particular as de produtos eletrônicos e automotivos. O comércio de serviços poderá ser o mais afetado pelo COVID-19 devido às restrições de transporte e viagens.