Glenn Greenwald é Denunciado Pelo MPF Por Organização Criminosa Com Hackers
O jornalista publicou em 2019, no site The Intercept, uma série de reportagens que mostravam conversas hackeadas dos celulares de autoridades públicas. Dentre eles, o celular do Ministro da Justiça Sérgio Moro foi um dos invadidos.
O jornalista Glenn Greenwald, fundador do site The Intercept, foi denunciado pelo Ministério Público Federal (MPF) na operação Spoofing, responsável pela investigação do trabalho de hackers que invadiram celulares de autoridades políticas brasileiras no ano passado. A denúncia ocorre mesmo após o ministro Gilmar Mendes, do STF (Supremo Tribunal Federal), ter proibido a investigação contra Greenwald, por atestar que o ato desconsidera a liberdade de imprensa.
Glenn foi denunciado pelo crime de organização criminosa, mesmo sem ter sido investigado ou indiciado. Segundo o MPF, a partir das investigações referentes aos hackers, ficou comprovado que o jornalista auxiliou, incentivou e orientou o grupo enquanto as invasões estavam sendo realizadas.
Uma gravação encontrada em um MacBook de um dos investigados mostra uma conversa entre Greenwald e um suposto hacker. Conforme o MPF, o áudio revela que o jornalista era consultado para dar orientações sobre a possibilidade de “baixar” o conteúdo das conversas do aplicativo Telegram dos políticos, antes que fossem publicadas no The Intercerpt. Além disso, os hackers atestavam para Glenn que as invasões e o monitoramento dos apps continuavam sendo realizadas. De acordo com a denúncia, o diálogo aconteceu após a divulgação da imprensa referente à invasão sofrida pelo Ministro da Justiça e da Segurança Pública, Sérgio Moro.
Além do jornalista, também foram denunciados os hackers que já estavam sendo investigados no caso: Walter Delgatti Netto, Thiago Eliezer Martins Santos, Danilo Cristiano Marques, Gustavo Henrique Elias Santos, Luiz Henrique Molição e Suelen Oliveira. Feita a denúncia, a Justiça ainda precisa analisá-la e se verificar que crimes foram cometidos, pode determinar a abertura do processo, fazendo com que os investigados virem réus.
Em suas redes sociais, o jornalista publicou um vídeo sobre a denúncia que sofreu.
Sobre a notícia da denúncia do MPF: é um ataque a liberdade de imprensa, o STF, as conclusões da PF e a democracia brasileira.
Nos vamos defender uma imprensa livre. Não seremos intimidados pelo abuso do aparato do estado nem pelo governo Bolsonaro. pic.twitter.com/bQ8smWw2sm
— Glenn Greenwald (@ggreenwald) January 21, 2020
“Vaza Jato”
Em 2019, o site The Intercept publicou uma série de reportagens especiais que denunciavam a influência de Sérgio Moro, então juiz federal, nas investigações da Lava Jato. A matéria, denominada como “Vaza Jato”, mostrava conversas retiradas do aplicativo Telegram do atual Ministro da Justiça e do procurador e coordenador da Lava Jato Deltan Dallagnol, em que Moro orientava e apontava os rumos das investigações da operação.
Segundo a Polícia Federal, os celulares haviam sido hackeados e um dos investigados, Walter Delgatti, afirmou que repassou as conversas ao jornalista para que fossem publicadas. Apesar do conteúdo mostrar que Sérgio Moro pode ter influenciado ideologicamente na operação Lava Jato, nenhuma investigação foi aberta para apurar o caso.
Quem é Glenn Greenwald?
Glenn Edward Greenwald é um jornalista e escritor americano, nascido em março de 1967. É principalmente conhecido por uma série de reportagens publicadas em junho de 2013, pelo jornal The Guardian, em que detalhou, junto com Edward Snowden, o programa de vigilância global dos Estados Unidos.
Após o sucesso das reportagens que investigaram o programa da espionagem da Agência de Segurança Nacional (NSA), Greenwald foi considerado uma dos colunistas mais importantes dos Estados Unidos. Além disso, foi premiado pelo Prêmio Pulitzer de jornalismo em 2014 e, no Brasil, ganhou o Prêmio Esso de Reportagem, por artigos publicados no jornal O Globo. Atualmente, trabalha como co-editor do site The Intercept, em que é um dos fundadores.
Foto: Arquivo/Agência Brasil